terça-feira, 9 de junho de 2009

O Encontro de Zé Pelintra com Lampião



Um dia desses, passeando por Aruanda, escutei um conto muito interessante. Uma história sobre o encontro de Zé Pelintra com Lampião...
Dizem que tudo começou quando Zé Pelintra, malandro descolado na vida, tentou aproximar - se de Maria Bonita, pois a achava uma mulher muito atraente e forte, como ele gostava. Virgulino, ou melhor, Lampião, não gostou nada da história e veio tirar satisfação com o Zé:

_Então você é o tal do Zé Pelintra? Olha aqui cabra, devia te encher de bala, mas não adianta...Tamo tudo morto já! Mas escuta bem, se tu mexer com a Maria Bonita de novo, vou dá um jeito de te mandar pro inferno...
_Inferno? Hahahaha, eu entro e saiu de lá toda hora, num vai ser novidade nenhuma pra mim!_ respondeu o malandro _ Além do mais, eu nem sabia que a gracinha da "Maria" tinha um "esposo"! Então é por isso que ela vive a me esnobar!
_Gracinha? Olha aqui cabra safado, tu dobre a língua pra falar dela, se não tu vai conhecer quem é Lampião! _ disse Virgulino puxando a peixeira, já que não era e nunca seria, um homem de muita paciência.
_Que isso homem, tá me ameaçando? Você acha que aqui tem bobo?_ e Zé Pelintra estralou os dedos, surgindo toda uma falange de espíritos amigos do malandro, afinal ele conhecia a fama de Lampião e sabia que a parada era dura.

Mas Lampião que também tinha formado toda uma falange, ou bando, como ele gostava de chamar, assoviou como nos tempos de sertão e toda um "bando" de cangaceiros chegaram para participar da briga. A coisa parecia já não ter jeito, quando um espírito simples, com um chapéu na cabeça, uma camisa branca, cabelos enrolados, chegou dizendo:

_Oooooooxxxxxx! Mas o que que é isso aqui? Compadre Lampião põe essa peixeira na bainha! Oxente Zé, tu não mexeu com Maria Bonita de novo, foi? Mas eu num tinha te avisado, ooooxx, recolhe essa navalha, vamo conversar camaradas...
_Nada de conversa, esse cabra mexeu com a minha honra, agora vai ter! _ Disse Lampião enfurecido!
_To te esperando olho de vidro! _ respondeu Zé Pelintra.
_Pera aí! Pela amizade que vocês dois tem por mim, "Severino da Bahia", vamo baixar as armas e vamo conversar, agora!
Severino era um antigo babalorixá da Bahia, que conhecia os dois e tinha muita afeição por ambos. Os dois por consideração a ele, afinal a coisa que mais prezavam entre os homens era a amizade e lealdade, baixaram as armas.
Então Severino disse:
_Olha aqui Zé, esse é o Virgulino Ferreira da Silva, o compadre Lampião, conhecido também como o "Rei do Cangaço". Ele foi o líder de um movimento, quando encarnado, chamado Banditismo ou Cangaço, correndo todo o sertão nordestino com sua revolta e luta por melhores condições de vida, distribuição de terras, fim da fome e do coronelismo, etc. Mas sabe como é, cometeu muitos abusos, acabou no fim desvirtuando e gerando muita violência...
_É, isso é verdade. Com certeza a minha luta era justa, mas os meios pelo qual lutei não foram, nem de longe, os melhores. Tem gente que diz que Lampião era justiceiro, bem...Posso dizer que num fui tão justo assim_ disse Lampião assumindo um triste semblante.
_ Eu sei como é isso. Também fui um homem que lutou contra toda exploração e sofrimento que o pobre favelado sofria no Rio de Janeiro. Nasci no Sertão do Alagoas, mas os melhores e piores momentos da minha vida foram no Rio de Janeiro mesmo. Eu personificava a malandragem da época. Malandragem era um jeito esperto, "esguio", "ligeiro", de driblar os problemas da vida, a fome, a miséria, as tristezas, etc. Mas também cometi muitos excessos, fui por muitas vezes demais violento e, apesar de morrer e terem me transformado em herói, sei que não fui lá nem metade do que o povo diz_ dessa vez era Zé Pelintra quem perdia seu tradicional sorriso de canto de boca e dava vazão a sua angústia pessoal...
_Ooxx, tão vendo só, vocês tem muitas semelhanças, são heróis para o povo encarnado, mas, aqui, pesando os vossos atos, sabem que não foram tão bons assim. Todos têm senso de justiça e lealdade muito grande, mas acabaram por trilhar um caminho de dor e sangue que nunca levou e nunca levará a nada.
_É verdade... Bem, acho que você não é tão ruim quanto eu pensava Zé. Todo mundo pode baixar as armas, de hoje em diante nós cangaceiros vamo respeitar Zé Pelintra, afinal, lutou e morreu pelos mesmos ideias e com a mesma angústia no coração que nós!
_ O mesmo digo eu! Aonde Lampião precisar Zé Pelintra vai estar junto, pois eu posso ser malandro, mas não sou traíra e nem falso. Gostei de você, e quem é meu amigo eu acompanho até na morte.
_Oooooxxxxx! Hahahaha, mas até que enfim! Tamo começando a nos entender. Além do mais, é bom vocês dois estarem aqui, juntos com vossas falanges, porque eu queria conversar a respeito de uma coisa! Sabe o que é...
E Severino falou, falou e falou... Explicando que uma nova religião estava sendo fundada na Terra, por um tal de Caboclo das Sete Encruzilhadas, uma religião que ampararia todos os excluídos, os pobres, miseráveis e onde todo e qualquer espírito poderia se manifestar para a caridade. Explicou que o culto aos amados Pais e Mães Orixás que ele praticava quando estava encarnado iria se renovar, e eles estavam amparando e regendo todo o processo de formação da nova religião, a Umbanda...
_...é isso! Estamos precisando de pessoas com força de vontade, coragem, garra para trabalhar nas muitas linhas de Umbanda que serão formadas para prestar a caridade. E como eu fui convidado a participar, resolvi convidar vocês também! Que acham?
_Olha, eu já tenho uma experiência disso lá no culto a Jurema Sagrada, o Catimbó! Tô dentro, pode contar comigo! Eu, Zé Pelintra, vou estar presente nessa nova religião chamada Umbanda, afinal, se ela num tem preconceito em acolher um "negô" pobre, malandro e ignorante como eu, então nela e por ela eu vou trabalhar. E que os Orixás nos protejam!
_Bem, eu num sô homem de negar batalha não! Também vou tá junto de vocês, eu e todo o meu bando. Na força de "Padinho" Cícero e de todos os Orixás, que eu nem conheço quem são, mas já gosto deles assim mesmo...
E o que era pra transformar - se em uma batalha sangrenta acabou virando uma reunião de amigos. Nascia ali uma linha de Umbanda, apadrinhada pelo baiano "Severino da Bahia", pelo malandro mestre da Jurema "Zé Pelintra" e pelo temido cangaceiro "Lampião".
Junto deles vinham diversas falange. Com o malandro Zé Pelintra vinham os outros malandros lendários do Rio de Janeiro com seus nomes simbólicos: "Zé Navalha", "Sete Facadas", "Zé da Madrugada", "7 Navalhadas", "Zé da Lapa", "Nego da Lapa", entre muitos e muitos outros.
Junto com Lampião vinha a força do cangaço nordestino: Corisco, Maria Bonita, Jacinto, Raimundo, Cabeleira, Zé do Sertão, Sinhô Pereira, Xumbinho, Sabino, etc.
Severino trazia toda uma linha de mestres baianos e baianas: Zé do Coco, Zé da Lua, Simão do Bonfim, João do Coqueiro, Maria das Graças, Maria das Candeias, Maria Conga, vixi num acaba mais...
Em homenagem ao irmão Severino, o intermediador que evitou a guerra entre Zé Pelintra e Lampião, a linha foi batizada como "Linha dos Baianos", pois tanto Severino como seus principais amigos e colaboradores eram "Baianos".
E uma grande festa começou ao som do tambor, do pandeiro e da viola, pois nascia ali a linha mais alegre, mais divertida e "humana" da Umbanda. Uma linha que iria acolher a qualquer um que quisesse lutar contra os abusos, contra a pobreza, a injustiça, as diferenças sociais, uma linha que teria na amizade e no companheirismo sua marca registrada. Uma linha de guerreiros, que um dia excederam - se na força, mas que hoje lutavam com as mesmas armas, agora guiados pela bandeira branca de Oxalá.
E, de repente, no meio da festa, raios, trovões e uma enorme tempestade começaram a cair. Era Iansã que abençoava todo aquele povo sofrido e batalhador, igualzinho ao povo brasileiro. A Deusa dos raios e dos ventos acolhia em seus braços todas aqueles espíritos, guerreiros como ela, que lutavam por mais igualdade e amor no nosso dia - dia.
E assim acaba a história que eu ouvi, diretamente de um preto " velho, um dia desses em Aruanda. Dizem que Zé Pelintra continua tendo uma queda por "Maria Bonita", mas deixou isso de lado devido ao respeito que tem pelo irmão Lampião. Falam, ainda, que no momento ele "namora" uma Pombagira, que conheceu quando começou a trabalhar dentro das linhas de Umbanda. Por isso é que ele "baixa", às vezes, disfarçado de Exu...
"Oxente eu sou baiano, oxente baiano eu sou
Oxente eu sou baiano, baiano trabalhador
Venho junto de Corisco, Maria Bonita e Lampião
Trabalhar com Zé Pelintra
Pra ajudar os meus irmãos...!"

Linha Boiadeiros e Cangaceiros

Obtive algumas informações sobre essas 2 linhas com Seu Zé Pilintra, e pude ver que muitas das entidades baixam nos terreiros conforme permitem. Se em uma casa não é desenvolvida a linha especifica, chegam em outra, sempre conforme a necessidade. Ja vi alguns guias da linha Boideiros, chegar em uma linha conhecida aqui no Sul, na linha de Cangaceiros. Tantas linhas se misturam para fazer cumprir suas missões ...Acho excelente !!! Eles sempre vem nos auxiliar, sempre respeitando nossos conhecimentos.
A linha de Cangaceiros conforme me informou Se Zé, vem trazendo a Irrevencia e a alegria, mesmo tendo vivido sobre condições sofridas,hoje nos auxiliam com cortes de magia e nos trazem os valores de humanismo e fé, comandados por Pai Omulu e Nanã Buruque, trazem pó em seus pés, vestidos com seus chapeus tipicos, quase todos trazendo uma estrela em cima de uma meia lua desenhados. Gostam de auxiliar e demonstram muita força em seus trabalhos religiosos, nos incentivam o equilibrio interno, o olhar a nossas ações e o valor da Vida.
Alguns nomes de Cangaceiros: Zé do Cangaço, Cangaceiro Severino, Maria do Cangaço, Cangaceira 7 Lagoas, etc... que chegam na linha onde tiverem permissão...!!!

BOIADEIROS
São espíritos hiperativos que atuam como refreadores do baixo astral, e são aguerridos, demandadores e rigorosos quando tratam com espíritos trevosos.
O símbolo dos boiadeiros são o laço e chicote que, em verdade, são suas armas espirituais e são verdadeiros mistérios, tal como são as espadas, as flechas e outras"armas" usadas pelos espíritos que atuam como refreadores das investidas das hostes sombrias formadas por espíritos do baixo astral.
Da mesma maneira que os pretos-velhos representam a humildade, boiadeiros representam a força de vontade,a liberdade e a determinação que existe no homem do campo e sua necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de forma simples, mas com uma força e fé muito grande. São habilidosos e valentes.
São regidos por Iansã, Oyá e Ogum, tendo recebido da mesma autoridade de conduzir os eguns da mesma forma que conduziam sua boiada, onde levam cada boi(espíritos) para o seu destino, e trazem os boisque se desgarram (obsessores, kiumbas e etc) devolta ao caminho do resto da boiada (o caminho do bem).
Suas maiores funções não as consultas como as dos pretos-velhos, nem os passes e as receitas de remédios como os caboclos, e sim o "dispersar de energias" aderida aos corpos, paredes e objetos.

É de extrema importância esta função, pois enquanto os outros guias podem se preocupar com o teor das consultas e dos passes, os boiadeiros "sempre" estarão atentos à qualquer alteração de energia do local (entrada de espíritos negativos).
Portanto quando bradam em tom de ordem como se estivessem laçando seu gado, estão na verdade ordenando os espíritos que entraram no local a se retirarem, assim "limpam" o ambiente para que a prática da caridade continue sem alterações, já que as presenças desses espíritos muitas vezes interferem nas consultas de médiuns conscientes.
Esses espíritos atendem os boiadeiros pela demonstraçãode coragem que os mesmos lhe passam e são levados poreles para locais próprios de doutrina. Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência.
Outra grande função de um boiadeiro e manter a disciplina das pessoas dentro de um terreiro, sejam elas médiuns da casa ou consulentes.
Eles nos ensinam a força que o trabalho tem e que o principal elemento de sua magia é a força de vontade, fazendo assim que consigamos uma vida melhor e farta.
É uma linha poderosa e muito numerosa no mundo espiritual e seus caboclos atuam nas sete linhas de Umbanda, e são descritos como Caboclos da Lei.
Atabaques : Dentro da ritualistica de Umbanda existe um elemento de grande importância que é a Curimba formada por médiuns que se dedicam ao estudo dos cânticos ritualísticos.
Há uma grande influência dos boiadeiros no trabalho da curimba, pois eles regem suas forças e fundamentos.
Os atabaques são formados basicamente por três elementos da natureza: Animal (couro) , Vegetal (madeira), Mineral (ferragens). Estes elementos por sua vez encontram-se no ambiente (reino) natural destas entidades e a força da curimba no terreiro está justamente em conseguir dissipar as energias negativas, inibir a ação de obsessores e desagregar miasmas e larvas astrais que estejam impregnados no ambiente de trabalho conseguindo com isso um êxito maior.

Eles são logo reconhecidos pela forma diferente de dançar, tem uma coreografia intricada de passos rápidos e ágeis, que mais parece um dançarino mímico, lidando bravamente com os bois.

Seu dia é quinta feira, gosta de bebida forte como por exemplo : cachaça com mel de abelha, que eles chamam de meladinha, mas também bebem vinho.

Fumam cigarro, cigarro de palha e charutos.

Seu prato preferido é carne de boi com feijão tropeiro, feito com feijão de corda ou feijão cavalo. Boiadeiro também gosta muito de abóbora com farofa de torresmo.

Em oferendas é sempre bom colocar um pedaço de fumo de rolo e cigarro de palha.

No Terreiro os Boiadeiros vêm “descendo em seus aparelhos” como estivessem laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente de trabalho e vibração. Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo as portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, assim como os Exus. Alguns usam chapéus de boiadeiro, laços, jalecos de couro, calças de bombachas, e tem alguns, que até tocam berrantes em seus trabalhos.

Nomes de alguns boiadeiros:

Boiadeiro da Jurema, Boiadeiro do Lajedo, Boiadeiro do Rio, Carreiro, Boiadeiro do Ingá, Boiadeiro Navizala, Boiadeiro de Imbaúba, João Boiadeiro, Boiadeiro Chapéu de Couro, Boiadeiro Juremá, Zé Mineiro, Zé do Laço, Boiadeiro Severino, Boiadeiro do Chapadão, etc

Ervas de Boiadeiro: Alecrim do Campo, Capim-Manteiga,Cravo da Índia, Folha de Manga, Gravata e Chapéu de Couro.

Saudação: Getuá Seu Boiadeiro!

Pontos de Boiadeiros:

Abalei minha roseira
Para tirar do caminho.
Na aldeia de boiadeiro
Não se pisa em espinho.
Na aldeia de boiadeiro
Não se pisa em espinho.


Cadê minha corda de laçar meu boi.
O meu boi fugiu eu não sei pra onde foi
Toma lá vaqueiro,
Toma jaleco de couro.
Toma jaleco de couro,
Oi na porteira do curral

Fontes: jornal de umbanda, blog Rodrigo Queiroz